sábado, janeiro 27, 2007

A Engenharia Atual

Repassando...

Leia e tire suas conclusões


A Engenharia Atual
Eng. Paulo Teixeira da Cruz, Prof. da Escola Politécnica da USP Conselheiro
da ABMS
E-mail: ptcruz@terra.com.br


Talvez as 6 pessoas que estavam dentro da Van que caiu na cratera do Metrô
sejam as únicas pessoas que não tem nada a ver com o acidente.


Porque nós, engenheiros de S.Paulo e do Brasil, as nossas Associações de
Classe, as nossas empresas de Consultoria e de Engenharia, os nossos
Empreiteiros e Donos de Obras , os nossos órgãos públicos, as nossas
instituições de ensino e de pesquisa, os nossos prefeitos e governadores, e
a nossa querida imprensa temos assistido de braços quase cruzados à
crescente derrocada da engenharia brasileira e a um número crescente de
acidentes nas nossas obras de engenharia.


Alguns casos, ou causos, como dizem os mineiros, podem ser lembrados.
Em l996, quando buscava apoio para editar o meu livro das 100 barragens, eu
recebi um auxílio fundamental na edição do livro de uma importante empresa
de engenharia. Dez anos depois , ou seja em 2006, eu procurei fazer um
contato com a empresa e comecei a telefonar aos meus conhecidos de 96 e já
não encontrei nenhum. Todos tinham "saído" da empresa. Passou dos 60, a
empresa agradece pelos serviços prestados. Com que objetivo uma grande
empresa abre mão dos seus membros mais antigos e seguramente mais
competentes? Não foi da competência que se tratava, mas talvez da forma de
trabalhar e de encarar os projetos e a sua execução. Os "novos" contratos
já não permitiam que certas práticas mais tradicionais fossem adotadas, e
talvez os "velhos" pudessem começar a criar dificuldades.


Não sei.
Os novos contratos, ou a nova maneira de se fazer engenharia, estão aí:
sempre discutidos, modificados, adaptados, questionados, mas todos contêm
dois germes nos seus embriões: os custos e os cronogramas.


Para qualquer projeto de engenharia, e principalmente num projeto de
infra-estrutura, só há duas questões na cabeça dos empreendedores:


quanto custa e quando fica pronto? Afinal por que motivos um investidor vai
colocar o seu dinheiro num investimento que rende menos do que as ações dos
bancos, ou do petróleo? Prejuízo é coisa para o governo. Obras têm que ser,
portanto, de menor custo e de curto prazo, para atrair o dinheiro privado
(que quase sempre é do BNDS, mas que é repassado para o investidor).


E nós, engenheiros e geólogos e administradores e gestores e coordenadores
e gerentes e fiscais e supervisores e engenheiros do cliente e engenheiros
do proprietário e engenheiros dos construtores e representantes dos
clientes e consultores, entramos todos nesta canoa furada que se chama de
Engenharia Brasileira.


Quando eu escrevi, em l996, na introdução do livro das 100 barragens, que
fosse por sorte ou fosse porque fosse, que nas 100 ou mais barragens com as
quais eu estive envolvido não havia ocorrido nenhum acidente importante, eu
não fazia idéia de que nos 10 anos seguintes eu estaria envolvido em vários
acidentes, em soluções de projeto de maior risco, em situações de absoluta
falta de engenharia, e assistisse à destruição de instituições de pesquisa
e à redução dos salários de profissionais, a níveis tais que
desincentivaram a entrada na área de novos engenheiros que encontrassem
espaço em empresas de projeto e de construção, onde pudessem completar a
sua formação profissional.


Já não existem empresas de engenharia no Brasil. Existem aglomerados de
profissionais autônomos, reunidos por um curto espaço de tempo, para
desenvolver um projeto sem recursos de investigações e de tempo, para ser
executado no menor prazo e ao menor custo, com um processo de
auto-fiscalização aprendido em cursos de informática.

sábado, janeiro 13, 2007

Commodities

Vou fazer uma coisa diferente. Para quem se interessar, vou passar algumas informações úteis, mas que nem sempre é de fácil compreensão.


Commodities

1- O que é uma Commoditie?
Commodities são produtos "in natura", cultivados ou de extração mineral, que podem ser estocados por certo tempo sem perda sensível de suas qualidade, como suco de laranja congelado, soja, trigo, bauxita, prata ou ouro. Atualmente também são consideradas commodities produtos de uso comum mundial como lotes de camisetas brancas básicas ou lotes de calças jeans.

2- Pra que serve uma Commoditie?
As Commodities são uma forma de investimento, uma opção entre as tantas opções de investimento no mercado, como poupança ou Fundos de Investimento.
PLUS 1- Então uma saca de trigo é uma commoditie que posso negociar?
Não, para um dos produtos citados ser uma commoditie, isto é, uma forma de investimento, é necessário que exista uma estrutura de mercado onde vendedores e compradores se encontram e onde se torna possível essa forma de investimento.

3- Mas como se funciona um investimento em Commodities?
Um investimento em Commodities se faz através do Mercado de futuros, que em linhas básicas funciona da seguinte maneira: Você compra no mercado de futuros um contrato com um grande produtor de laranjas, estipulando que ele se compromete a entregar daqui a sete meses 400 toneladas de laranjas, pelas quais você se compromete a pagar R$140,00 por tonelada. Nessa transação você espera poder vender esse contrato de laranjas para algum interessado, antes da sua data de vencimento, por um preço maior por tonelada do que pagou, obtendo lucro na transação.
Como qualquer tipo de investimento, a opção de investir em Commodities será analisada por seu:
Retorno: Ganho percentual sobre o capital investido que se espera ganhar em comparação com outras formas de investimento.
Risco: Incerteza quanto a investir em uma opção de investimento
Na análise quanto ao risco e retorno de um investimento, a escolha varia de pessoa para pessoa, já que alguns aceitam riscos maiores em troca de retornos maiores enquanto outras pessoas preferem retornos menores mas com riscos também menores.

4- Mas o que fazer com tantas laranjas se eu não conseguir vendê-las?
Como investidor, ou melhor dizendo, como especulador você não vai ter nenhuma posse física das Commodities que negocia, você somente vai comprar e vender contratos como outros tantos investidores antes da data de vencimento dos contratos. Assim, pode ser que daqui a cinco dias você ache que o preço por tonelada de laranjas está satisfatório em R$145,00 e o venda para outro especulador. Pronto, vocês fez a operação no Mercado de Futuros e nem por isso teve de se preocupar em onde colocar 400 toneladas de laranja.

5- Então Commodities são iguais a ações da Bolsa de Valores?
Não, o Mercado de Ações e o Mercado de Futuros (que negocia as Commodities) têm diferenças.
No Mercado de Capitais (ações), se negocia tanto ações "velhas", emitidas há vários anos, quanto ações "novas", emitidas por uma empresa nova por exemplo. Nesse mercado há a distribuição de dividendos (como que uma participação nos lucros das empresas a acionistas possuidores de ações especiais que recebem esse dividendos) .
No Mercado de Futuros somente se negocia produtos disponíveis para consumo imediato ou futuro, não se poderia negociar o trigo consumido a cinco anos por exemplo. Nesse mercado não há a distribuição de dividendos.

6- Então no Mercado de Futuros somente circulam especuladores atrás de lucros?
Mais ou menos, no Mercado de Futuros cerca de 90% dos negócios são feitos com finalidade especulativa, mas também existem compradores que desejam o produto final. Por exemplo, a Nestlé tem como matéria-prima básica para sua linha de produção de chocolates o Cacau, e para manter um nível de produção regular ao longo do tempo, a Nestlé compra no Mercado de Futuros contratos de Cacau a um preço acertado que lhe permita manter também os custos e o preço final do produto. Outra vantagem para os consumidores finais da Commodities é o ganho com a eliminação dos custos de estocagem e manuseio da produção.

7- Mas e se o produtor de uma Commoditie que faz um Contrato Futuro sofre uma quebra de produção, não podendo mais honrar o contrato?
Nesse caso, o produtor terá que comprar um outro contrato no mercado na mesma proporção que o seu, seja mais caro ou mais barato, de modo que quando chegar a data término do seu contrato, também o contrato que comprou vencerá e então cumprirá o contrato com a produção de outro produtor. O produtor na verdade anula seu contrato. É por esse motivo que os produtores de Commodities tratam com tanta discrição as informações sobre a produção, para poderem realizar operações de anulação se necessário. Por exemplo, o relatório sobre a produção de laranjas nos EUA tem data marcada para ser apresentado para o público.

8- Mas o que um especulador faz se o preço da Commoditie da qual tem um contrato começa a cair.
Nesse caso, se o especulador não acredita a alta de preços daquela Commoditie ou se prefere anulá-lo naquele momento temendo perdas maiores, então realiza um processo de anulação igual ao que o produtor faria se houvesse quebra de sua produção, pagando a diferença entre os contratos, sendo este seu prejuízo. Esse tipo de contrato é chamado de "Short Position".
Também pode ocorrer do especulador acreditar que o preço da Commoditie subirá antes do final do contrato que possui, então ou manterá o contrato ou comprará de alguém que o está "passando para frente" como um "Short Position", então esse será um contrato de "Long Position" para esse especulador.

9- Onde são negociados esses Contratos Futuros?
Esses contratos são negociados nas Bolsas de Mercados e Futuros, como a BM&F brasilieira, as bolsas de Chicago, Londres, New York, ...

10- É o próprio especulador que faz os contratos com o produtor?
Não, como nas Bolsas de Valores, os negócio são realizados através de corretoras que recebem remunerações em percentagem dos contratos, ou se os ganhos em um contrato são grandes, ganham também participações no lucro.

Para saber mais:

Trading in Commodities - An investors Chronicle Guide
Editor: C.W.J.Granger

Commodities - O Preço do Futuro
Noênio D. Spínola


Fontes:

Keiler Carvalho Rocha, professor do Departamento de Administração / FEA - USP. FEA: 818-5842 Escritório: 289-4455

Bolsa de Valores do Estado de São Paulo / Bovespa
Rua XV de Novembro, 275 CEP 01013-001 São Paulo-SP (perto da estação São Bento do metrô).
Telefone: 233-2000, fax: 233-2099.
Endereço na Internet: http:// www.bovespa.com.br

quinta-feira, janeiro 11, 2007

País alcança a meta de formar 10 mil doutores por ano

Pós-graduação
País alcança a meta de formar 10 mil doutores por ano: Portal MEC

O número de pessoal altamente qualificado, formado pelo Brasil, com títulos
de doutor e mestre, jamais foi tão elevado. Pela primeira vez na história,
atingiu-se a meta de formar dez mil doutores e 40 mil
mestres por ano. Os dados, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes/MEC), demonstram ainda que existem 2.400 brasileiros,
com bolsas de estudos da agência, distribuídos em
mais de 30 países, para realizar intercâmbio e aperfeiçoamento
profissional. Em 2006, 10.868 bolsistas de doutorado e 15.646 de mestrado
contaram com o apoio da Capes, o que representa um aumento de
33% e de 32%, respectivamente, sobre os números de 2001.

Como conseqüência direta desse aumento, tem-se uma maior capacidade de
produção científica. Estima-se que, a longo ou médio prazo, o aumento do
número de doutores possa trazer maior desenvolvimento e riqueza para o
País. A intenção é que a ampliação da pós-graduação e a formação de pessoal
qualificado também tragam maior qualidade para a educação brasileira, já
que muitos desses mestres e doutores tornam-se educadores. Uma das metas
estabelecidas pelo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2005-2010),
documento que integra o Plano de Governo do presidente Lula, é a formação
de 16 mil doutores/ano a partir de 2010.

A pós-graduação brasileira já pode ostentar no currículo o apoio a outros
países. A implantação da primeira universidade pública de Cabo Verde
(África) contou com consultoria técnica e planejamento de especialistas da
Capes. A instituição cabo-verdiana seguirá os padrões brasileiros de
instituições públicas de ensino superior.

Ensino básico - A experiência da Capes na avaliação dos cursos de
pós-graduação poderá trazer, a partir de 2007, uma maior qualificação
também para o ensino básico. O Ministério da Educação apresentou uma
exposição de motivos, já aceita pelo presidente da República, que atribui à
agência a responsabilidade pela qualificação dos professores do ensino
básico. O projeto de lei foi encaminhado ao Congresso
Nacional.

É a primeira vez que o governo federal assume a responsabilidade pela
qualificação de professores do setor, já que a Constituição Federal
estabelece que essa missão deve ser dos estados e municípios. Se o
projeto for aprovado, a Capes deve manter suas atribuições atuais e
agregar ainda as atividades de qualificação, avaliação e fomento dos
processos de formação de professores do ensino básico.

(Ana Guimarães Rosa, com informações da Assessoria de Comunicação Social da
Capes)

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Nova era para a ciência islâmica?

Nova era para a ciência islâmica?, artigo de H. T. Goranson


Os EUA, têm substituído a ciência por "questões de fé", em todos os
escalões do governo, do presidente para baixo, e esse é o seu equívoco

H. T. Goranson é o principal cientista da Sirius-Beta Corp; foi Cientista
Sênior na Agência de Projetos de Pesquisa Avançada da Secretaria da Defesa
dos EUA. © Project Syndicate 2006. http://www.project-syndicate.org. Artigo
publicado no “Valor Econômico”:

Durante algumas centenas de anos, quando a Ciência e as Ciências
Matemáticas gozavam um período de grande poder inventivo, uma região do
mundo sobressaiu.

Mestres dessas disciplinas foram reverenciados lá, a Medicina avançou
velozmente e as pessoas comuns ficaram curiosas em saber como a natureza
funcionava. Não surpreende que essa região seja mundialmente respeitada.

Na outra metade do planeta conhecido, cientistas eram punidos, até mortos.
As Ciências Matemáticas foram proscritas por serem não-religiosas e
alienígenas, e mais tarde foram transformadas em matérias subservientes à
religião. O padrão de vida era baixo.

A região próspera era o Oriente Médio islâmico, enquanto uma Europa
ignorante permanecia pobre.

As duas regiões eram governadas religiosamente (historiadores divergem
sobre o papel e a natureza das religiões neste contexto), mas a ciência só
floresceu em uma delas. Agora, naturalmente, os papéis do Oriente Médio
Islâmico e do Ocidente estão invertidos.

Desde a Segunda Guerra Mundial os EUA têm sido líderes incontestes do mundo
em Ciências. Ao longo desse período, os estudantes mais brilhantes foram
afastados das suas terras natais, atraídos pelas oportunidades e
universidades de pesquisa superiores.

Até recentemente, mais de metade de todos os estudantes graduados nos EUA
em Matemática, Ciências e Engenharia era nascida no exterior. Muitos desses
talentos permaneciam no país após a formatura, e tanto a indústria quanto o
governo tiraram proveito desta situação.

Enquanto isso, as culturas islâmicas entraram numa fase histórica na qual a
ciência foi condenada como uma influência ocidental e evitada.

Mesmo nos países em que as receitas com o petróleo poderiam alimentar uma
quantidade substancial de pesquisa, os dirigentes árabes não estimularam
esse tipo de investimento, com o resultado de que as suas sociedades não
prosperaram tanto quanto poderiam.

Recentemente, um desejo por maior respeito político estimulou os países
islâmicos a investirem em tecnologia, o que é mais visível nas ambições
nucleares paquistanesas e iranianas. Apesar de estes artefatos nucleares
terem peso político, a tecnologia por trás delas é mundana e antiga.

Mais significativo é o respeito que emana de observações elaboradas, não de
produtos de descobertas passadas. Imagine a influência que seria gerada por
um instituto paquistanês que fosse líder mundial em pesquisa de câncer.

A retórica política mudaria se pesquisadores em Omã descobrissem uma
fórmula para suprimir a AIDS?

Esta é uma oportunidade não reivindicada. Mas existe outra, e não só para
sociedades islâmicas. Os EUA cometeram alguns profundos deslizes
recentemente.

"Questões de fé" têm sido substituídas por ciência em todos os escalões do
governo, do presidente para baixo.

Pesquisadores proeminentes tiveram seus relatórios alterados por operadores
políticos quando os fatos contradiziam a crença oficial. Estimulados por
uma administração influenciada religiosamente, sistemas escolares estão
alterando o seu enfoque, da ciência para "valores".

Desde os atentados terroristas de setembro de 2001, os vistos de entrada
são emitidos em menor número e são mais difíceis de obter, estancando o
fluxo de talentos jovens às universidades dos EUA. Organizações científicas
renomadas protestaram, sem resultado.

Ao mesmo tempo, leis tributárias foram revisadas para tornar os
investidores mais ricos no curto prazo, desestimulando investimentos de
longo prazo em pesquisa.

Meio trilhão de dólares foram empenhados na guerra no Iraque, soma
praticamente igual ao patrocínio de toda a pesquisa básica nos últimos mil
anos. Mesmo se os EUA evitarem uma idade negra fundamentalista, eles
claramente arriscam-se a perder o seu predomínio em pesquisa global.

O Japão reconheceu a conexão entre influência política e ciência na década
de 1980. O principal homem da indústria do Japão, Akio Morita, presidente
da Sony, e o político de direita Shintaro Ishihara proferiram uma série de
discursos que foram reunidos e publicados em 1986 na forma de um livro
chamado "The Japan That Can Say No" [O Japão que pode dizer não].

Eles delinearam uma estratégia nacional na qual a influência mundial
deveria fluir a partir da liderança científica. A idéia chave foi que o
poderio militar poderia ser tornado obsoleto se a "cadeia alimentar" das
tecnologias militares fosse controlada por outros países.

O título do livro refere-se ao plano do Japão de "dizer não" à influência
militar dos EUA assim que o Japão controlasse tecnologias militares
estratégicas.

Construir uma economia baseada em conhecimento usando a riqueza do petróleo
é certamente possível. O Texas, por exemplo, como a maioria dos Estados do
Sul dos EUA, já foi economicamente pobre e decadente.

Embora tivesse receitas do petróleo, o fluxo de dólares numa economia, em
si, não impulsiona a prosperidade na medida em que se poderia imaginar.
Então o Texas decidiu dedicar o dinheiro do seu petróleo a um fundo
educacional.

Hoje aquele fundo é praticamente igual ao da Universidade Harvard e está
disperso por 15 universidades. O efeito tem sido assombroso: a indústria
aeroespacial quase desapareceu da Califórnia, mas está se desenvolvendo
rapidamente no Texas.

Centros de pesquisa de telecomunicações e consórcios convergiram para o
Texas, até da gigante de telecomunicações canadense Nortel. Apesar de a
atividade fabril nos EUA estar em crise, o Texas tem uma das mais poderosas
economias fabris no mundo.

Não há motivo para que o mesmo resultado não possa ser obtido no Oriente
Médio. Primeiro, porém, o mundo islâmico deve redescobrir e adotar a sua
altiva herança.

domingo, janeiro 07, 2007

Peroba e ILEGALIDADE

Peroba e ILEGALIDADE


A revolta dos brasileiros diante dos desmandos cometidos por aqueles que exercem o poder parece funcionar por surtos e geralmente dura pouco mais de 24 horas. Depois de algum tempo, todo mundo parece se acostumar com qualquer anomalia. Os representantes do povo sabem disso e não é à toa que os políticos brasileiros não demonstram o menor medo da opinião pública.
Sabem que esta late, mas quase nunca morde. No imbróglio do reajuste de quase 100%
autoconcedido por deputados e senadores, o fato concreto é que, para o desgosto dos otimistas que pensam que a farra não vingou por conta da reação da sociedade, quem barrou a mamata foi o Poder Judiciário, usando um argumento incontestável: o reajuste era ilegal.

Infelizmente, o que tivemos, outra vez, foi um exemplo de que barulho e estratégias de constrangimento por parte da opinião pública não funcionam para dar aos homens públicos deste país algo que a maioria deles parece não ter: alguma vergonha de representar tão mal e porcamente quem os elege. É verdade que, quando a gritaria da opinião pública começou a ecoar com mais ênfase nos meios de comunicação – o modo do brasileiro protestar é essencialmente midiático, no que isso tem de pior – e a Justiça se manifestou sobre o assunto, cada vez mais deputados entravam em cena dizendo-se também contrários ao reajuste.

Não custa lembrar, no entanto, que quem bateu o martelo sobre a auto-premiação foram justamente os líderes dos partidos. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, e do Senado, Renan Calheiros, já no auge da repercussão negativa, vieram a público afirmar taxativamente que a decisão seria mantida a qualquer custo, num sinal claro de que não adiantaria a população bradar, o legislativo não iria se intimidar. O imbróglio, após a intervenção judicial, acabou não tendo um final feliz para os promotores da multiplicação do salário próprio e a opinião pública acabou com a sensação de que o estrago na farra parlamentar foi ela que fez.

*ÓLEO DE PEROBA* – O episódio, como ocorre hoje com toda crise política, tornou-se um escândalo midiático, constrangeu deputados e senadores, mas, simultaneamente, houve quem saísse dele rindo à toa com os lucros simbólicos que obteve, por angariar capital político positivo para a imagem perante a mesma opinião pública aparentemente indócil.

Heloísa Helena, por exemplo, que já andava na fase chorosa de despedida do Senado – de onde sai para, suprema ironia, dar lugar ao inimigo político Fernando Collor de Mello – não poderia ter recebido de presente uma oportunidade melhor para sair do mandato mantendo os gritos esbaforidos sobre o quanto o Legislativo é ocupado por uma legião de consumidores contumazes de óleo de peroba. Fernando Gabeira, que nos últimos tempos vem se transformado a passos largos em quase uma unanimidade no posto de porta-voz da lucidez na Câmara dos Deputados, reagiu com sua peculiar acidez irônica e ganhou não só preciosos pontos na aprovação do eleitorado como também ocupou minutos e espaços igualmente valiosos no horário nobre do telejornalismo nacional e nas principais páginas de política.

*INTELIGENTE* – A estratégia mais inteligente adotada para transformar um escândalo em pontos positivos junto ao eleitorado foi a adotada pela bancada dos parlamentares-pastores da Igreja Universal do Reino de Deus. Voluntariamente e com ampla divulgação e cobertura da Rede Record de Televisão, a bancada da IURD anunciou aos quatro ventos que seus parlamentares, em bloco, por unanimidade, decidiram que, durante todo o resto deste mandato e ao longo do próximo (no caso dos novos ou recém-reeleitos), iriam doar todo o valor referente ao reajuste de 91% à Fazenda Nova Canaã, a principal obra social da Universal, localizada no município baiano de
Irecê e voltada para o atendimento à infância carente.

Já os líderes das oposições ao governo, ou seja, o PFL e o PSDB, estão mais sujos na fita midiática do que vilão de novela. Ganha um doce que tiver lido, visto ou ouvido uma declaração de algum figurão desses partidos contra o reajuste abusivo. Um dos ícones do neo-PFL, Rodrigo Maia (RJ), teve até o topete de dizer que o Congresso recuou porque a sociedade reagiu. Ora, para quem sabe ler e ouvir, o recado é equivalente à tese popular de jogar barro na parede para ver se cola. Com a sociedade brasileira, colaria sim. O azar estava no fato de não atentaram para a ilegalidade do velho decreto legislativo datado e expirado tornando a autoconcessão de reajuste sem votação em plenário uma nulidade legal.
Enquanto isso, há dias, o trabalhador comum acompanha no noticiário a discussão em torno do reajuste do salário mínimo, cujo reajuste deverá elevá-lo, no máximo, em R$ 30. Mas, quem se importa? Estamos no clima festivo do final do ano, já é verão e logo logo será Carnaval.

*Malu Fontes *é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA.
Texto publicado em 24 de dezembro de 2006.