Ruy Fabiano, no blog do Noblat
Na quinta-feira, 8, os jornalistas foram surpreendidos por uma boa notícia
– coisa rara, nestes tempos: a Petrobrás havia encontrado vasto campo de
gás e petróleo na Bacia de Santos. Mais: a descoberta elevaria as reservas
brasileiras em 50%. Nada menos.
Neste momento em que as dificuldades comerciais com a Bolívia de Evo
Morales ameaçam o abastecimento de gás, a notícia pareceu ainda mais
auspiciosa. Infelizmente, porém, não é bem assim. A "descoberta" ocorreu há
dois anos – e já havia sido anunciada, mais especificamente em 5 de
setembro de 2005.
De lá para cá, não houve novidade que justificasse trazê-la novamente à
tona – a não ser, claro, criar um falso clima de euforia, que fez com que
as ações da Petrobrás valorizassem em 14%. Esse, porém, é apenas um
subproduto. Qual será o real objetivo de apresentar com estardalhaço uma
notícia velha, sem que nada de novo a ela se tenha acrescentado, de modo a
justificar sua reedição?
Mesmo as projeções em relação à descoberta não constituem novidade. Já
haviam sido feitas dois anos antes.
A operação comercial do primeiro campo da Bacia de Santos só começará em
2011, e apenas para testar sua viabilidade. Confirmadas as estimativas, a
exploração – se houver, pois há dificuldades operacionais que a põem em
dúvida - começará apenas por volta de 2013 ou 2014. Isso, aliás, já havia
sido dito antes.
O óleo encontrado está entre 4.500 e 7 mil metros de profundidade. As
prospecções da Petrobrás vão a no máximo 2.700 metros de profundidade. Mais
do que isso, o custo operacional aumenta enormemente – e a empresa admite
nem poder estimá-lo. Informa apenas que, mesmo em profundidades menores,
a exploração de um campo que produza 150 mil/barris dia, fica acima de US$
1 bilhão, o que já é um custo monumental.
Para profundidades como as previstas nesse campo, ainda não há nem
tecnologia, nem recursos. Ou seja, a descoberta, cuja viabilidade
exploratória ainda nem está avaliada, tem, por enquanto, sua prospecção
inviabilizada em face do custo.
Não obstante, Lula sapecou: "Parece que entramos para a Opep, não é Dilma
(Roussef, chefe da Casa Civil)?" E Dilma, no mesmo tom de euforia: "Nós
saímos de uma situação de um país que estava se tornando auto-suficiente
para a de um país exportador - patamar em que estão países como a Venezuela
e os árabes."
O diretor da Petrobrás, Guilherme Estrela, menos afeito à coreografia
marqueteira, foi bem mais sóbrio: "O que encontra-mos dá robustez às
nossas hipóteses, mas ainda é uma hipótese" . Isso, porém, não está no
press-release da Secretaria de Comunicação da Presidência da República
(Secom). É preciso que o repórter seja um chato e se disponha a prospectar
esses, digamos, detalhes, junto à área técnica da Petrobrás para decompor
a notícia. Feito isso, ela desapa-rece das manchetes, perde seu glamour e
deixa de ser o que objetivou ser: instrumento de propaganda governamental.
Especulou-se que Lula havia feito o re-anúncio da descoberta como recurso
estratégico preliminar para a visita que faz a Evo Morales.
Improvável. As agressões do governo Morales ao Brasil – e mais
especificamente à Petrobrás – em nenhum momento incomodaram o governo
Lula. Como se recorda, o governo Lula, desde o primeiro momento sustentou
o direito de a Bolívia fazer o que fez: rasgar um acordo comercial e se
apropriar militarmente de uma refinaria brasileira. A visita de Lula
reveste-se da cordialidade de sempre. A farsa do re-anúncio, portanto, não
se dirige a Morales.
Dirige-se a nós mesmos. . .
Em tempo : A Petrobras sempre "batizou" seus poços de
petróleo, com nomes de peixes : marlim, namorado, robalo, enchova,
garoupa, etc. . .
O "novo" poço, "redescoberto" agora pela segunda vez, foi apresentado com o nome de "tupy".
Mas, especula-se que, em momento oportuno, ele será "rebatizado" , dentro da tradição, com o nome de algum "peixe" ou coisa parecida!
O nome já está escolhido : Lulla ( com dois eles colorido s ! . . . ) . Nada como ser criativo ! . . .
Márcio Dayrell Batitucci
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