São Paulo pagou R$ 456 milhões a 45 doadores de Alckmin
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-CATIA SEABRA
MATHEUS PICHONELLI
da Folha de S.Paulo
Juntas, 45 colaboradoras da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência são
destinatárias de R$ 456,1 milhões dos cofres do Palácio dos Bandeirantes
apenas neste ano. Cruzamento entre a prestação de contas do PSDB e a lista
de fornecedores do Estado de São Paulo revela que pelo menos 45 doadoras
estão entre os credores do governo estadual, comandado por Alckmin até
março deste ano.
Somados ao contrato para o trecho Sul do Rodoanel, o total previsto para
essas empresas superaria R$ 2 bilhões.
Essas empresas --entre elas empreiteiras, bancos e fornecedoras de
equipamentos de segurança-- contribuíram com R$ 14.478.968, correspondendo
a 23% dos R$ 62 milhões arrecadados pelo comitê financeiro da campanha.
Além desses R$ 456,1 milhões já liquidados (cujo pagamento já foi
autorizado) pelo governo, há ainda R$ 1,546 bilhão em contratos para a
construção do trecho Sul do Rodoanel. Encarregadas da obra, as
construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior e
Engevix estão entre os principais doadores da campanha.
A Andrade Gutierrez, por exemplo, contribuiu com R$ 1,5 milhão para a
campanha de Alckmin. Neste ano, a empreiteira receberá R$ 15 milhões do
Estado, segundo o orçamento registrado no Sigeo (sistema de acompanhamento
dos gastos do Estado). O contrato do Rodoanel prevê R$ 492,9 milhões para
a empreiteira.
O rol inclui da prestação de serviços bancários a quatro empresas
especializadas em segurança. Fornecedora de peças em couro, a Fujiwara
Equipamentos de Proteção Individual, por exemplo, é beneficiária de R$
1,173 milhão em contratos com o governo do Estado. A empresa, com sede no
Paraná, forneceu 35.900 pares de botas de cano curto para a Secretaria de
Segurança Pública. Destinou R$ 300 mil à campanha tucana. Outra
fornecedora de equipamentos de segurança, o grupo Bertin doou R$ 500 mil.
Realizado pela liderança do PT na Assembléia Legislativa a pedido da
Folha, o levantamento se limita aos gastos previstos com a administração
direta, excluindo as empresas sob o controle do Estado.
Registrados os gastos dessas empresas --de 2001 para cá-- a lista de
fornecedores que integram a relação de doadores seria maior, somando outro
R$ 1,5 bilhão liberado.
Entre as empresas que contribuíram para a campanha, a Sadia venceu
licitação para fornecer tiras empanadas e congeladas de carne de frango
para merenda. Destinou à campanha R$ 500 mil.
Doadora de R$ 850 mil, a Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga foi
contratada para fornecer combustíveis. A empresa possui contratos que
somam R$ 22,5 milhões com o governo paulista.
O maior colaborador da campanha, com R$ 3,5 milhões, o banco Itaú recebeu
R$ 7,2 milhões pelos serviços de arrecadação de tributos. Nesse total não
estão contabilizadas as despesas com serviços prestados pelas outras
empresas do grupo. Também encarregado por arrecadação e por seguro de
imóveis, que somam R$ 2 milhões, o grupo Unibanco contribuiu com R$ 1,3
milhão. Doador de R$ 1,5 milhão, o Banco Real recebeu R$ 1 milhão por
arrecadação e ainda por realizar trabalhos de restauração do patrimônio
público em parceria com o Estado.
02/12/2006 - 09h25
Outro lado: "Ser fornecedor não é pecado", diz tesoureiro
da Folha de S.Paulo
Tesoureiro da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência, Paulo Bressan,
afirma que o comitê financeiro não se inspirou na lista de fornecedores do
Estado para assediar potenciais doadores. Bressan argumenta, no entanto,
que a relação "não pode ser excludente".
"Ser fornecedor não é pecado", afirmou ele, alegando que a empresa
prestadora de serviço tem o direito de participar do processo eleitoral.
"Se ele é fornecedor está de fora?", perguntou.
Segundo ele, não haveria sequer condições de criar um banco de dados com o
nome das empresas que têm contrato com o Estado. A Folha procurou cada uma
das empresas. Mas poucas responderam.
A Andrade Gutierrez afirmou que "fez doação à campanha do candidato
Geraldo Alckmin entendendo que sua proposta de governo valorizava os
investimentos em infra-estrutura, de forma a minimizar o custo Brasil".
A Sadia, por sua vez, enviou nota em que "esclarece que fez doações de
recursos à campanha de Geraldo Alckmin e a diversos outros candidatos a
cargos públicos na última eleição, dentro das regras estabelecidas pela
legislação brasileira. As doações foram feitas de forma transparente e são
de conhecimento público", afirmou, concluindo:
"Por fim, a empresa entende que, segundo as regras legais atuais, as
doações fazem parte do processo democrático".
O grupo Bertin informou, por intermédio de sua assessoria, que deixa
reservado um fundo para colaboração com campanhas eleitorais. Fornecedora
de equipamento de segurança para o Estado, a empresa afirma que a reserva
fica à disposição de quem a procura. Alckmin foi um deles.
A Camargo e Correa informou que não comenta assuntos relativos a doação de
campanha, mas afirmou que a contribuição foi transparente e registrada.
O ABM-Amro/ Real disse que firmou contrato de restauração e revitalização
de áreas de patrimônio público, como a reforma do colégio Rodrigues Alves,
em São Paulo, e que contribui para a campanha para estimular o debate
democático.
A Brasanitas Serviços Integrados afirma que "contribuiu, dentro das leis,
com serviço completo de limpeza para o evento ocorrido no dia 23/10/ 2006
no Clube Atlético Pinheiros, emitindo nota fiscal do serviço doado no
valor de R$1.361,42".
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