Repassando...
Leia e tire suas conclusões
A Engenharia Atual
Eng. Paulo Teixeira da Cruz, Prof. da Escola Politécnica da USP Conselheiro
da ABMS
E-mail: ptcruz@terra.com.br
Talvez as 6 pessoas que estavam dentro da Van que caiu na cratera do Metrô
sejam as únicas pessoas que não tem nada a ver com o acidente.
Porque nós, engenheiros de S.Paulo e do Brasil, as nossas Associações de
Classe, as nossas empresas de Consultoria e de Engenharia, os nossos
Empreiteiros e Donos de Obras , os nossos órgãos públicos, as nossas
instituições de ensino e de pesquisa, os nossos prefeitos e governadores, e
a nossa querida imprensa temos assistido de braços quase cruzados à
crescente derrocada da engenharia brasileira e a um número crescente de
acidentes nas nossas obras de engenharia.
Alguns casos, ou causos, como dizem os mineiros, podem ser lembrados.
Em l996, quando buscava apoio para editar o meu livro das 100 barragens, eu
recebi um auxílio fundamental na edição do livro de uma importante empresa
de engenharia. Dez anos depois , ou seja em 2006, eu procurei fazer um
contato com a empresa e comecei a telefonar aos meus conhecidos de 96 e já
não encontrei nenhum. Todos tinham "saído" da empresa. Passou dos 60, a
empresa agradece pelos serviços prestados. Com que objetivo uma grande
empresa abre mão dos seus membros mais antigos e seguramente mais
competentes? Não foi da competência que se tratava, mas talvez da forma de
trabalhar e de encarar os projetos e a sua execução. Os "novos" contratos
já não permitiam que certas práticas mais tradicionais fossem adotadas, e
talvez os "velhos" pudessem começar a criar dificuldades.
Não sei.
Os novos contratos, ou a nova maneira de se fazer engenharia, estão aí:
sempre discutidos, modificados, adaptados, questionados, mas todos contêm
dois germes nos seus embriões: os custos e os cronogramas.
Para qualquer projeto de engenharia, e principalmente num projeto de
infra-estrutura, só há duas questões na cabeça dos empreendedores:
quanto custa e quando fica pronto? Afinal por que motivos um investidor vai
colocar o seu dinheiro num investimento que rende menos do que as ações dos
bancos, ou do petróleo? Prejuízo é coisa para o governo. Obras têm que ser,
portanto, de menor custo e de curto prazo, para atrair o dinheiro privado
(que quase sempre é do BNDS, mas que é repassado para o investidor).
E nós, engenheiros e geólogos e administradores e gestores e coordenadores
e gerentes e fiscais e supervisores e engenheiros do cliente e engenheiros
do proprietário e engenheiros dos construtores e representantes dos
clientes e consultores, entramos todos nesta canoa furada que se chama de
Engenharia Brasileira.
Quando eu escrevi, em l996, na introdução do livro das 100 barragens, que
fosse por sorte ou fosse porque fosse, que nas 100 ou mais barragens com as
quais eu estive envolvido não havia ocorrido nenhum acidente importante, eu
não fazia idéia de que nos 10 anos seguintes eu estaria envolvido em vários
acidentes, em soluções de projeto de maior risco, em situações de absoluta
falta de engenharia, e assistisse à destruição de instituições de pesquisa
e à redução dos salários de profissionais, a níveis tais que
desincentivaram a entrada na área de novos engenheiros que encontrassem
espaço em empresas de projeto e de construção, onde pudessem completar a
sua formação profissional.
Já não existem empresas de engenharia no Brasil. Existem aglomerados de
profissionais autônomos, reunidos por um curto espaço de tempo, para
desenvolver um projeto sem recursos de investigações e de tempo, para ser
executado no menor prazo e ao menor custo, com um processo de
auto-fiscalização aprendido em cursos de informática.
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