segunda-feira, agosto 07, 2006

Banco x Padarias

Muito bom, vale a pena ler.
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CARTA ABERTA AO BRADESCO

Senhores Diretores do Bradesco,
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma
pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua
rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da
feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso
dia-a-dia.
Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários,
pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria,
feira, mecânico, costureira, farmácia etc). Uma taxa que não
garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante. Existente apenas
para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para
manter um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros
de combustível etc) o usuário pagaria os preços de mercado ou,
dependendo do produto, até um pouquinho acima.
Que tal?
Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores
concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de
honestidade.
Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a
seguinte cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro
me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do
pão, assim como, todo e qualquer serviço. Além disso, me impõe taxas.
Uma "taxa de acesso ao pãozinho", outra "taxa por guardar pão
quentinho" e ainda uma "taxa de abertura da padaria". Tudo com muita
cordialidade e muito profissionalismo, claro.
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o
que ocorreu comigo em seu Banco.
Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os
senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra
o preço de mercado pelo pãozinho.
Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem
me cobrando apenas pelo produto que adquiri.
Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram
uma "taxa de abertura de crédito" – equivalente àquela hipotética
"taxa de acesso ao pãozinho", que os senhores certamente achariam um
absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento,
fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco. Para que isso
fosse possível, os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de
conta".
Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma
conta, essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa
de abertura da padaria", pois, só é possível fazer negócios com o
padeiro depois de abrir a padaria.
Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos
como "Papagaios". Para liberar o "papagaio", alguns gerentes
inescrupulosos cobravam um "por fora", que era devidamente embolsado.
Fiquei com a impressão que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes
inescrupulosos. Agora ao invés de um "por fora" temos muitos "por
dentro".
- Tirei um extrato de minha conta – um único
extrato no mês – os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.
- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa
de R$ 7,90 "para a manutenção da conta" – semelhante àquela "taxa
pela existência da padaria na esquina da rua".
- A surpresa não acabou: descobri outra taxa
de R$ 22,00 a cada trimestre – uma taxa para manter um limite
especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite
especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo. Semelhante
àquela "taxa por guardar o pão quentinho".
- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil
funcionária que me atendeu, me entregou um caderninho onde sou
informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer movimentação que
eu fizer.
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os
senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive
nas instalações de seu Banco.
Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um
financiamento ou se vendi a alma?
Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me
respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um
serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua
responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências
governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc e
tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto
por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.
Sei disso.
Como sei, também, que existem seguros e garantias legais
que protegem seu negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os
riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos
senhores, talvez sejam muito mais elevados.
Sei que são legais.
Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam
garantidas em lei, tais taxas são uma imoralidade.

Brasília, 30 de maio de 2006.
Delman Ferreira

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