Lula cresceu e Alckmin caiu em todas as regiões, em todas as faixas de
renda e em todos os segmentos de escolaridade. Os movimentos são, portanto,
consistentes e homogêneos. O presidente alcançou um patamar espetacular no
Nordeste (75% a 25%), aumentou sua vantagem no Sudeste (56% a 44%) e no
Norte e no Centro-Oeste (58% a 42%) e reduziu a dianteira de Alckmin no
Sul, a única região onde o tucano leva a melhor (53% a 47%). À luz desses
números, não se sustenta a tese de que Lula seria o preferido do Brasil
atrasado, enquanto Alckmin venceria no Brasil moderno.
Quando se decompõe o eleitorado por renda mensal, Lula já ultrapassou o
tucano na faixa de 5 a 10 salários mínimos (52% a 48%), onde, dez dias
atrás, o ex-governador de São Paulo vencia por dez pontos de diferença.
Mesmo entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, a diferença a favor
de Alckmin reduziu-se significativamente (60% a 40%). Vale destacar que, em
termos de escolaridade, o presidente somente é derrotado entre os que
possuem curso superior, mas a diferença, que andou acima da casa dos 20
pontos na virada do segundo turno, encurtou para doze (56% a 44%).
Pode-se dizer que o jogo está jogado e que é impossível uma virada? Não, na
vida nada é impossível. Mas é muito pouco provável que Alckmin tenha
discurso, tempo e forças para mudar o quadro atual. Para se ter uma idéia
da magnitude da tarefa, ele teria de tomar mais de 900 mil votos de Lula
por dia, todos os dias, até o dia da eleição, para impedir sua vitória.
Convenhamos: é muito pouco provável que isso aconteça, a menos que ocorram
fatos novos espetaculares que provoquem um terremoto eleitoral. Como os
índices de "alopragem" no PT são sabidamente elevados e tampouco até agora
sabe-se de onde veio o dinheiro para a compra do dossiê, não se pode
descartar inteiramente a possibilidade de uma reviravolta. Mas a simples
constatação de que as chances de Alckmin dependem basicamente da
intervenção do inesperado mostra como sua situação é complicada.
Embora muitos fatos e episódios tenham contribuído para a boa performance
de presidente e para os tropeços de seu adversário nas últimas semanas, a
explicação básica para a disparada de Lula nas pesquisas é simples: ele
venceu o debate político com Alckmin. No segundo turno, sem a presença de
azarões e nanicos, a disputa transformou-se num mano a mano entre os dois
candidatos, que favoreceu e impôs a confrontação política. A campanha de
Lula percebeu isso e forçou uma comparação entre o atual governo e as
propostas da aliança do PSDB com o PFL. Nesse momento, Alckmin acabou
agarrando-se na tábua de salvação da cobrança ética. E, quando não tendo
conseguido sustentar o fogo, foi obrigado a se pronunciar sobre temas como
privatizações, economia, programas sociais, Bolsa Família etc, caiu na
defensiva. Pior: quis sair da defensiva convencendo o eleitorado de que
suas idéias nessas questões não são muito diferentes das de Lula. Não
convenceu. Declarou-se contra as privatizações, manifestou-se a favor do
Bolsa Família, apoiou o Pró-Uni etc. E com isso apenas abriu o flanco para
a campanha de Lula encaixar um slogan demolidor: "Não troque o certo pelo
duvidoso". Faz sentido.
Se as urnas vierem a confirmar as pesquisas e o presidente for reeleito, o
PSDB e o PFL terão de passar por uma boa chacoalhada interna. Precisam
entender que a bandeira de ética, por mais importante que seja, não pode
ser um expediente para esconder a falta de propostas. E que só hoje só
vence as eleições para presidente no Brasil quem falar para o País todo (e
for entendido por ele). A classe média – média-média e média-alta – é pouco
para levar alguém ao Palácio do Planalto. Como já disse antes (ver coluna
do dia 21/08/2006 e entrevista à revista Caros Amigos), o "efeito pedra no
lago" acabou. A formação de maiorias no País hoje é um processo muito mais
complexo e sofisticado do que há dez anos. Felizmente. É um sinal de que o
País está se modernizando social e politicamente
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