sábado, outubro 21, 2006

Lavagem Cerebral

Leia até o fim, faz parte de sua vida.
Pense. Pense. Pense...

DISCURSO DO ALCKIMIN NA OPUS DEI
Viva a Liberdade de Imprensa!
Por Bernardo Kucinski

"Quero agradecer em primeiro lugar aos meus companheiros de
partido de São Paulo. Foi graças a São Paulo que estamos virando o jogo. E
agradecer a meus irmãos da Opus Dei que me confortaram nos piores momentos
da campanha até aqui. Mas quero agradecer acima de tudo aos jornalistas
brasileiros, sem os quais seria impossível desconstruir esse verdadeiro
mito da política que estamos enfrentando. Parecia uma tarefa impossível. O
arquétipo do "pai dos pobres" estava profundamente enraizado no imaginário
popular. Mas certos preconceitos também estavam e a imprensa foi muito
feliz em fazer aflorar esses preconceitos. Lembro a todos a associação dos
petistas a ratos através do poder da imagem, na capa de VEJA que vocês
todos conhecem(1). Vários jornalistas, trabalharam essa associação depois
por escrito, com grande sucesso.(2) Foi um risco calculado, usar mesma
técnica que Goebbels usou no seu filme " O judeu eterno", para convencer os
alemães de que os judeus deveriam ser exterminados. Mesmo porque, não se
trata da eliminação física dos nossos adversários ou dessa raça, como disse
equivocadamente, o nosso amigo senador Bornhausen. Mas se trata, sem
dúvida, de sua erradicação da política brasileira. Outra associação
importante foi com o conceito de "quadrilha" Arnaldo Jabor foi muito eficaz
quando escreveu que "com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no
governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar
no poder 20 anos." A própria palavra "petista" já está adquirindo uma
conotação pejorativa. É, sem dúvida uma grande vitória na batalha pelas
mentes e corações dos brasileiros... (interrupção por aplausos
prolongados).
"Não importa se no final dos inquéritos em curso, não ficar
provada corrupção no governo, ou que o dinheiro do mensalão não veio dos
cofres do Estado, ou que a maioria dos esquemas de corrupção começou no
governo anterior. Os jornalistas brasileiros agiram bem ao ignorarem
formalismos como o da presunção da inocência ou o do direito à auto-imagem.
E mais ainda ao cunharem a expressão "mensaleiro" que estigmatiza por igual
toda uma categoria de políticos, independente do grau ou tipo de
envolvimento de cada um. Foi através de abordagens corajosas como essas,
ignorando a superada ética jornalística liberal, que conseguimos inculcar
em grande parte do eleitorado a idéia da quadrilha (3) (aplausos).
"Da mesma forma, com a expressão "Nosso guia", a imprensa
conseguiu associar sutilmente a figura desse falso "pai dos pobres" à dos
ditadores comunistas, Stalin, Mao e Enver Hoxa. (4) Com isso personalizamos
a idéia geral , que já havíamos conseguido disseminar antes, de que essa
gente é autoritária por natureza . Também conseguimos convencer boa parte
do eleitorado de que esse "pai dos pobres", não tem educação nem cultura, é
um ignorante.E não foi fácil, dada a propensão do povo de respeitar as
autoridades. Muitos jornalistas contribuíram para isso e todos eles eu
agradeço.(5) A idéia de que se trata de um ignorante pegou fundo e hoje é
encampada inclusive por intelectuais, como o dramaturgo Lauro Cezar Muniz
que em declaração de grande destaque na Folha Ilustrada, explicou como " a
falta de escolaridade impede a pessoa de entrar em contato com a lógica" e
que por isso nosso adversário "não tem clareza para governar o Brasil."(6)
"A imprensa estrangeira também ajudou. Quero lembrar a vocês o
artigo do New York Times sugerindo que o mito é um alcoólatra. A primeira
reação do povo foi repudiar o jornalista americano, por aquele motivo que
já mencionei, o respeito à autoridade, ainda mais quando atacada por um
estrangeiro. Mas graças ao desastrado gesto de sua expulsão e posterior
ajuda de alguns de nossos mais brilhantes jornalistas, conseguimos reverter
esse quadro e hoje posso assegurar a vocês, são muitos os brasileiros que
acreditam na tese do alcoolismo. Agradeço em especial ao diretor da
sucursal da Folha em Brasília , que através de pesquisa cuidadosa nos
mostrou que o alcoolismo está no DNA da família Silva. (7) Finalmente quero
mencionar o brilhantismo com que alguns jornalistas trabalharem a delicada
idéia de esse pai dos pobres e os petistas em geral são tipos patológicos.
VEJA foi pioneira ao dizer que "Lula tem dificuldades patológicas em
compreender o que lhe pertence e o que pertence e ao Estado." (8) E Diogo
Mainardi, comparou Lula ao Papa Léguas, "uma besta primária, um oportunista
microcéfalo perfeitamente adaptado ao seu meio, que sabe apenas fugir das
ciladas preparadas pelo coiote." (9) Quero mencionar, em especial o artigo
de José Neumanne Pinto: "Freud, Lombroso e Jung no Planalto", publicado às
vésperas da eleição, no jornal mais importante do país, O Estado de S.Paulo
(10). Hoje, como vocês sabem, há um retorno ao paradigma genético, portanto
ao modelo lombrosiano. Meus irmãos da Opus Dei, a propósito, nunca
abandonaram a abordagem lombrosiana. O artigo de Neumanne foi tão
importante que o colocamos no nosso site. Enfim, sei que deixei de
mencionar dezenas de jornalistas que também contribuíram para o combate ao
mito. A todos agradeço de coração. E os conclamo a continuar a lauta. O
mito foi duramente atingido, mas ainda não morreu. Nossa tarefa é
destruí-lo. (aplausos prolongados, gritos de Viva a Liberdade de Imprensa,
Viva São Paulo.)

- Fim do discurso de agradecimentos.

NOTAS:
(1) VEJA, 25/05/2005.
(2) Entre eles, André Petry em VEJA, de 24/06/06 (" De ratos e homens")
.e Rubens Alves na Folha de S. Paulo, de 18/04/2006 (" Os ratos e os
elefantes")
(3) O Código de ética dos jornalistas brasileiros, aprovado em congresso
nacional da categoria e em vigor desde 1987, diz nos seus artigos 14 e
15: Art. 14. O jornalista deve: a) Ouvir sempre, antes da divulgação dos
fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por
terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas. b) Tratar
com respeito a todas as pessoas mencionadas nas informações que
divulgar. Art. 15 - O jornalista deve permitir o direito de resposta às
pessoas envolvidas ou mencionadas em sua matéria, quando ficar
demonstrada a existência de equívocos ou incorreções.
(4) A expressão foi repetidamente aplicada por Elio Gaspari em sua
coluna e hoje já é usada por outros jornalistas.
(5) Reinaldo Azevedo chama o presidente de "analfabeto", na epígrafe de
seu site; Miriam Leitão, no O Globo, de 11/09/05, dedicou toda uma
coluna à "falta de escolaridade do candidato do partido dos
Trabalhadores"; e Sonia Racy, no Estadão de 19/01/06, concluiu que ao se
referir ao Uruguai e Paraguai como " nossos irmãos mais pequenos", Lula
revelou sua ignorância do vernáculo, quando a ignorância na verdade era
dela, pois segundo a gramática de André Hildebrando de Afonso a
expressão é correta e de uso corrente em várias regiões.
(6) Folha Ilustrada, 07/03/2006. Cezar Muniz parece ignorar que o
raciocínio lógico é inerente ao cérebro humano. Até mesmo os loucos
raciocinam com lógica. O que muda é o conteúdo do raciocínio, conforme
se trate de um saber cientifico, ou religioso, popular, ou
supersticioso.
(7) Josias de Souza, Folha de São Paulo, 16/05/04: "Alcoolismo marca
três gerações dos Silva"
(8) VEJA, 12/07/06.
(9) 28/06/06
(10) OESP, 20/09/06
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Bernardo Kucinski é jornalista, é professor da Universidade de São Paulo
e autor, entre outros, de "A síndrome da antena parabólica: ética no
jornalismo brasileiro" (1996) e "As Cartas Ácidas da campanha de Lula de
1998" (2000).

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