Alckmin só tem arranco
(Paulo Boblitz - out/6)
Quando eu era menino, costumávamos representar nossa desconfiança em alguém, utilizando tal expressão. Isso acontecia quando não acreditávamos que o colega fosse capaz de um determinado feito, ou de nos acompanhar em algum desafio.
Com Alckmin aconteceu assim; foi só de arrancada, para o desespero da turma dele. Bem que o Fernando Henrique queria o Serra.
Alguém é só de arranco, quando faz bonito só na partida, e depois desanda.
Alckmin teve um bom arranco quase no fim do primeiro turno, auxiliado por muitas octanas de um dossiê combustível, envenenado nos bastidores, mas ficou só nisso mesmo.
Cantou pneus, produziu muita fumaça branca, lançou cheiro de borracha queimada no ar, fez muita zoada de motor potente, mas disparar que é bom..., não disparou. Ficou só de lançar beijinhos para a arquibancada, enquanto o outro candidato passava e seguia em frente.
Tem gente que até consegue desenvolver enquanto dura a reta, mas chegada a primeira curva, logo fica para trás, pois que mesmo com bom motor e suspensão, falta-lhe o braço.
E foi o que aconteceu quando do primeiro debate, da primeira curva em que o talento se fez impor, quando Alckmin do arranco que vinha desembestado, perdeu o controle e andou sobrando, espalhando brita e sujeira na pista inteira, fazendo lambança para partido nenhum botar defeito.
Da arquibancada onde estavam seus torcedores, todos levantaram em sobressalto, e muitos foram os que perceberam que corrida é para quem sabe correr. Houve uma debandada quase a seguir, pois que correr não é jogar o carro para a frente; correr é controlar a máquina quando ela sonha escapar, é sincronizar as marchas com o ronco do motor, é poupar pneus mesmo nas curvas mais abrasivas, é consumir combustível com o pé bem dosado.
Piloto de arranco não é piloto; é pisador de pedal.
Quando a máquina é complicada, quando requer talento e jeito, ou se sabe pilotá-la ou corre-se o risco de parecer um fanfarrão. Não adianta chegar com macacão bonito, cheio de zíperes, patrocinadores e bandeiras, se não se é um bom profissional.
O bom corredor não é um pau mandado; ele é antes de tudo, um desenvolvedor. Dele saem as informações necessárias para a perfeita composição, homem máquina num corpo só. As aparências só servem para os desfiles de modas, tais como aqueles que devem acontecer na tal Daslu, onde se corre na passarela não para vencer, mas sim para aparecer.
De arranco ele entrou no páreo, deu um chega-prá-lá no José Serra, e achou que poderia competir, pois devia sentir-se algum fenômeno em assuntos de urnas. A única urna que ele bem lembrará, será aquela que encerrará os sonhos dele para sempre. De tudo isso restará, em parede especial, algum retrato da convenção, tempo em que só valia o potencial, como aquele antes da corrida, quando os motores roncam procurando apostadores, quando o conjunto parece legal.
Findada a corrida, apostadores descontentes cobrarão pelo rompante, pelo jeito falso que se fez apresentar, e piadas dissimuladas correrão pelo mundo dos corredores pilotos, pelos corredores dos bastidores:
Alckmin só tem arranco; não vale o investimento...
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