terça-feira, outubro 03, 2006

O que está em jogo

O que está em jogo

Por EMIR SADER


O que está em jogo no segundo turno não é apenas se a Petrobrás vai ser
privatizada – como afirma o assessor de Alckmin, Mendonça de Barros à
revista Exame – e, com ela, o Banco do Brasil, a Caixa Economia Federal, a
Eletrobrás.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se os movimentos sociais
voltarão a ser criminalizados e reprimidos pelo governo federal.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se o Brasil seguirá
privilegiando sua política externa de alianças com a Argentina, a Bolívia,
a Venezuela, o Uruguai, Cuba, assim como os países do Sul do mundo, ao
invés da subordinação à política dos EUA.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se retornará a política de
privataria na educação.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se a política cultural
será centrada no financiamento privado.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se teremos menos ou mais
empregos precários, menos ou mais empregos com carteira de trabalho.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se haverá mais ou menos
investimentos públicos em áreas como energia, comunicações, rodovias,
saneamento básico, educação, saúde, cultura.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se seguiremos diminuindo
as desigualdades no Brasil mediante políticas sociais redistributivas –
micro-crédito, aumento do poder aquisitivo real do salário mínimo,
diminuição do preço dos produtos da cesta básica, bolsa-família,
eletrificação rural, entre outros – ou se voltaremos às políticas
tucano-pefelistas do governo FHC.

O que está em jogo no segundo turno é tudo isso – o que, por si só, é de
uma enorme proporção e já faz diferença entre os dois candidatos. O que
está sobre tudo em jogo nos segundo turno é a inserção internacional do
Brasil, com conseqüências diretas para o destino futuro do país.

Com Lula se manterá a política que privilegia a integração regional e as
alianças Sul/Sul, que se opõem à Alca em favor do Mercosul. Com Alckmin se
privilegiariam as políticas de livre comércio: Alca, assinatura de Tratado
de Livre Comércio com os EUA, isolamento da Alba, debilitamento do
Mercosul, da Comunidade Sul-Americana, das alianças com a África do Sul e a
Índia, o Grupo dos 20.

O que está em jogo no segundo turno é a definição sobre se o Brasil vai
subordinar seu futuro com políticas de livre comércio ou se o fará em
processos de integração regional. Isso faz uma diferença fundamental para o
futuro do Brasil e da América Latina. Adotar o livre comércio é abrir
definitivamente a economia do país para os grandes monopólios
internacionais – norte-americanos em particular -, é renunciar a definir
qualquer forma de regulamentação interna – de meio ambiente, de moeda, de
política de cotas, etc. É condenar o Brasil definitivamente à centralidade
das políticas de mercado, com a perpetuação das desigualdades que fazem do
nosso o país mais injusto do mundo.

O que está em jogo no segundo turno então é se teremos um país menos
injusto ou mais injusto, se teremos um país mais soberano ou mais
subordinado, se teremos um país mais democrático ou menos democrático, se
teremos um país ou se nos tornaremos definitivamente em um mercado
especulativo e nos consolidaremos como um país conservador dirigido pelas
elites oligárquicas (como um mistura de Daslu mais Opus Dei). Se seremos um
país, uma sociedade, uma nação – democrático e soberanos - ou se seremos
reduzidos a uma bolsa de valores, a um shopping center cercado de miséria
por todos os lados.

Tudo isto está em jogo no segundo turno. Diante disso ninguém pode ser
neutro, ninguém pode ser eqüidistante, ninguém pode ser indiferente.


EMIR SADER

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