Não acredito no Geraldo Alckmin
(Paulo Boblitz - out/6)
Não acredito no Geraldo Alckmin. Primeiro, pela expressão que ele deixa transparecer; pelos trejeitos estudados que já se transformaram em cacoetes; pelo penteado que tenta disfarçar uma careca; pelo apertar dos lábios que demonstra certo freio e frieza diante do falar, falar medido e cauteloso. Esta fala não encerra verdades. É a própria autocensura ganhando tempo para raciocinar. O espontâneo pode entregar o jogo.
Segundo, por não usar de uma linguagem tranqüila; ele, às vezes, não consegue esconder seu jeito autoritário e impaciente: os lábios, em certas ocasiões repuxados para trás, não deixam negar; ali, a musculatura torna-se enrijecida sem controle, como se houvesse falha psicomotora.
Terceiro, pela acintosa mania de mostrar simplicidade tomando cafezinhos e comendo em bandejões, no entanto fazendo questão de tentar ridicularizar o Presidente, somente porque este lia. É um soberbo que se trai, quando sozinho como ficou no debate, sem ajuda de seus cenógrafos, resolveu improvisar. Cafezinho e bandejão não significam humildade; comparações superiores, representam arrogância autoritária e imatura. Ele tem cara de quem foi muito mimado.
Quarto, pelo seu jeito refinado, acostumado à idéia da necessidade de uma pobreza como pilar de sustentação de toda a riqueza. Por isso ele repete, de forma fatigante, o pequeno crescimento percentual do Brasil, comparando-o com outros países da América Latina: eles querem apenas ganhar mais.
Quinto, pelos partidos que representa, partidos de uma elite construídos para a manutenção da elite, e entenda-se como elite, todos aqueles que necessitam postar-se acima dos interesses da coletividade. É ela quem no final, produz a prostituição, a fome e a própria miséria, dividindo depois a culpa da violência com toda a sociedade.
Sexto, porque não fala o que sente, não expressa o que realmente pretende. Palavras ao vento, de quem já privatizou e ajudou a privatizar muita soberania que um dia já foi do Brasil, e hoje é do estrangeiro, daquele mesmo onde todos eles gostam de passear e aprender modos finos para aqui implantar.
Sétimo, pela travessura de quem diz, e no minuto seguinte desdiz, pois que privatizará o avião presidencial do Brasil, quem sabe terceirizar muitas pastas ditas públicas, favorecendo é claro, aquela mesma elite que necessita estar por cima, por direito porque é de modos finos, torcendo o nariz para os não eleitos da classe refinada.
Oitavo, pelo recado subliminar que remete aos parceiros, do maior bolo pela menor repartição, quando desempregará em massa, quando se dispuser a enxugar a máquina do Estado.
Nono, quando levianamente informa que fará o que nunca fez ao longo desse tempo enorme que esteve à frente de um forte Estado de São Paulo, dono de um espetacular orçamento.
Décimo, quando esconde, por vergonha e interesses, todos os escândalos do governo dele e dos anteriores pares dele.
Décimo primeiro, quando com muito cinismo e muita hipocrisia, condena e responsabiliza o Presidente Lula, e emite julgamento viciado sobre as práticas antes praticadas e inventadas pela turma dele: PSDB e PFL.
Décimo segundo, quando não consegue esconder ou dissimular, que o Social para ele, está e estará em último plano.
Não acredito em quem simula atitudes, em quem por meio de afetações finge valentias, em quem treina e ensaia debate, antes do debate começar.
Não acredito em gente dominável, e Geraldo Alckmin, só faz o que se manda. Estão por trás dele, o Fernando Henrique, o Serra, o Tasso, e tantos outros, para que a lista não fique longa, figurões com fortes laços com a terra de Bush, com a terra de Blair.
Geraldo Alckmin não chega para defender nossos interesses, e digo nossos, referindo-me a todos nós assalariados e não assalariados. Geraldo Alckmin chega para proteger e retomar o naco que agora é dividido entre tanta gente desassistida e carente, animalizada pelo processo elitista que ele representa.
Eu acredito firmemente que o Geraldo Alckmin privatizará a Petrobras, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste, a Caixa Econômica e tudo quanto representar nossa soberania, pois que estas nossas estatais, assim como outras que já foram privadoadas, permitam-me tal construção, significam nossa personalidade, nossa luta e nossa história, nossas obras que funcionam porque foram bem construídas. Não são eles que mandam rasgar o que foi antes escrito?
Acredito que Geraldo Alckmin bem pode acabar com o Bolsa Família, pois que tudo o que é social, vai de encontro com a religião do custo, transformando-se em despesa perdida, e como ela é com os menos favorecidos, com os desafortunados que não são das nobres castas, deve ser cortada e combatida. É na pobreza que a riqueza tem e exerce o seu poder.
Quando nada mais restar vender no Brasil, terminarão por privatizar a Amazônia, se não Geraldo Alckmin, alguém da turma dele, em foto alegre para o futuro, empunhando o martelo dourado do leilão.
Crença tem a ver com fé, e só acreditamos quando nos sentimos tocados. Se sabemos praticar a falsidade, reconhecemos quem a pratica.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário