quinta-feira, outubro 19, 2006

PSDB em São Paulo privatizou mais, proporcinalmente, que FHC

JANIO DE FREITAS

Daí para baixo

Sob acusações que não quer explicar ou não tem como fazê-lo, Lula se concentra em acusações recíprocas

A CAMPANHA PELA Presidência degenerou mesmo e não tem mais salvação. Mas, se é própria da disputa a exploração dos erros e das fraquezas de Lula, do PT e do governo, a oposição não está isenta de dividir com os adversários a responsabilidade pelo baixíssimo nível do confronto -"como jamais houve neste país", diria alguém, não estivesse envolvido. Alckmin e seus companheiros contribuíram decisivamente, por dois modos principais e combinados, para a redução da Presidência a uma presa de luxo e cifrões, disputada por duas hordas com iguais ambições e armas.
A exploração do dossiê Vedoin, do dinheirão de origem misteriosa, e outras criações dos adversários não impediria Alckmin de apresentar ao eleitorado, com clareza e precisão, as idéias que orientariam seu governo em relação aos principais problemas e anseios do país.
Ou porque não tenha idéias assim ou porque não lhe convenha expô-las à apreciação do eleitorado, Alckmin ficou, quando muito, na vaguidão do tipo "vou melhorar o Bolsa Família, vou acabar com a corrupção", e nada menos superficial. Relegadas as propostas devidas por todo candidato à Presidência, reduziu sua campanha a uma ação de infantaria, ainda por cima, com armamento pouco variado.
A segunda contribuição vem da maneira peculiar como Alckmin e o PSDB convidam a campanha de Lula a também reduzir a disputa à troca de acusações. Sob acusações ininterruptas que não quer explicar ou não tem como fazê-lo (presumivelmente, por exemplo, a origem do tal dinheirão), Lula e sua campanha do segundo turno concentram-se em acusações recíprocas. O que não quer dizer que Lula tenha idéias definidas para um mandato inovador, mas a Alckmin caberia forçá-lo a mostrar se as tem ou não. Faz o oposto.
A campanha de Alckmin e dos peessedebistas "pela ética" não se restringe, porém, a acusações ao adversário. Inclui a originalidade ética de negar o seu passado administrativo e a linha partidária característica. Negar que o PSDB seja privatista é falsificação grosseira. Mesmo que apenas no âmbito estadual: em termos proporcionais aos respectivos patrimônios, o PSDB no governo paulista (últimos 12 anos) privatizou muito mais o patrimônio estadual do que o governo Fernando Henrique conseguiu fazê-lo com o patrimônio da União.
A defesa das privatizações por meio de comparações com o passado é, também, outra farsa. Omite o fato essencial de que as tarifas e os preços, antes da privatização, eram contidos pelos governos para evitar que as correções, ainda que apenas para repor perdas com a inflação, aumentassem os subsequentes índices inflacionários. É claro que a expansão da telefonia é imensa: as tarifas foram aumentadas entre 100% e 200% em poucos meses depois da privatização, além dos financiamentos privilegiados do BNDES. O dinheiro para investimento ficou fácil e barato. O quilo do aço da Companhia Siderúrgica Nacional, ao tempo de Mailson da Nóbrega controlando a economia, custava o mesmo que um molho de salsa ou cheiro verde (quando publicada aqui tal relação, o pasmo de leitores traduziu-se em centenas de correspondências). E, mostrou no domingo meu bravo colega Frederico Vasconcelos, Alckmin, antes de deixar o governo, esbanjou dinheiro com "antecipação de gastos considerados eleitorais".

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